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OLÍMPIA E AS OLIMPÍADAS

Eu estava no primeiro dia do voluntariado junto aos atletas chineses no clube de que sou sócia. Um outro sócio espiava o treino na piscina. Antes de sair, puxou mais um dedo de prosa: “Minhas filhas não quiseram vir. Não se interessaram por nada”. Pena, ele completou. Ops! Não só concordei, como fiquei feliz de ver que ele estava entusiasmado como eu.

A conversa tinha sido formalmente finalizada, mas esse pequeno diálogo me levou longe. De lá, me vi em Olímpia, na Grécia antiga procurando vestígios daquilo que eu estava experimentando. Era algo ainda não identificado, não reconhecia seus limites.

Nesse local estava a origem das Olimpíadas. Possivelmente lá eu encontraria o sentido do ser olímpico e daquilo que move milhares de pessoas em torno do esporte.

A OLÍMPIA GREGA

Na verdade, Olímpia era um santuário e pertencia à cidade de Pisa. Geograficamente, ele se situava no bosque Áltis, perto do Monte Cronos, entre os rios Alfeu e Cladeu, na região do Peloponeso. Essa descrição não faz muito sentido no espaço físico, não é verdade? Nem para mim. Mas, fiquei nas palavras, nesses nomes que me lembram poesia.

Esse lugar de nome tão feminino estava ligado indelevelmente aos jogos esportivos.

Nessa localidade na Grécia Antiga, há mais de 2700 anos já se realizavam os jogos a cada quatro anos que reuniam atletas em nome do deus Zeus, o rei de todos os deuses. Eles disputavam honra e fama. Há mais de um mito relacionado às origens dos jogos. Entre eles, a figura de Zeus estaria presente e era dele uma grande estátua feita de marfim e ouro pelo escultor Fídias em um dos templos de Olímpia.

Segundo a mitologia, seria o lugar em que Zeus teria derrotado seu pai Cronos. Olímpia seria então uma referência ao Olimpo e ao próprio Zeus, chamado Olímpico.

Atualmente, nesse sítio arqueológico há sinais indicativos de visitação de fieis e de oferendas. Algumas de suas descobertas são datados do século X a.C, época em que se acredita já ter havido a prática de esportes no local. Ao longo do tempo, esse santuário foi se constituindo de muitas edificações: templos, altar para sacrifícios, hipódromo e o estádio, entre outras. Os gregos relacionavam as competições esportivas às celebrações religiosas.

No ano de 776 a. C., Olímpia realizou a primeira edição dos Jogos Olímpicos, pela qual começou a ser mais conhecida. Durou um dia e a corrida era a modalidade esportiva. Era uma Grécia bem diferente do que conhecemos. Difícil imaginar, mas contamos com um período de mais de mil anos em que tais jogos aconteceram. O imperador romano Teodósio I, o Grande teria proibido cultos e práticas pagãos em 393 d.C.

Depois de um longo intervalo, Pierre de Coubertin retomou a ideia, desejando resgatar a experiência do ser olímpico. Como educador que também era, ele poderia perceber a necessidade de trazer tais práticas para os jovens de sua época. Ele sabia que o jovem grego treinava nos ginásios e pistas em suas cidades, o que era uma prática na formação para a vida adulta. O esporte possibilitaria o desenvolvimento de força e competência pessoal. Ainda que elitistas, os gregos assim se diferenciavam dos bárbaros. Era uma civilização de cultura que se alimentava de virtudes e valores.

OS JOGOS DE OUTRORA E OS DE HOJE

O Barão Pierre de Coubertin idealizou um plano para a realização dos Jogos Olímpicos como na Antiguidade. Inspirado na descoberta das ruínas arqueológicas de Olímpia apresentou um projeto em congresso internacional em junho de 1894, na Sorbonne em Paris. Nesse congresso foi constituído o Comitê Olímpico Internacional (COI). Desde então, a cada quatro anos o mundo volta a atenção para os novos deuses que disputam medalhas e conquistas. Mas as Olimpíadas não são isentas das máculas da sociedade humana.

Será que mais recentemente, temos atingido o que os jogos gregos teriam conseguido e o que Coubertin sonhou? Vivemos uma época diferente em que o doping ocupa as manchetes dos jornais. Como é ser olímpico em tempos de terrorismo? Os jogos ao longo do século XX foram inseridos de politização e outras disputas. O que é ser olímpico na atualidade? O que era esse conceito na antiguidade? Não temos mais um Zeus a quem nos reportar.

Os jogos foram fruto de uma civilização que honrava seus deuses. Havia um mérito no esporte e na força física. O reencontro com o espírito olímpico pode ser almejado, mas, na verdade, aspectos da atualidade quase deturpam tal aspiração.

Mesmo assim, ouvimos histórias de vitórias, de superação, de imenso esforço a respeito de atletas que estão nesta olimpíada moderna. Rafaelas e Zanettis suportam estresse, dor e restrições tendo à frente um objetivo que as mobiliza. Conquistas que têm um valor pessoal e também coletivo. São todos exemplos de compromisso e responsabilidade, de resistência e disciplina. A perfeição lá na frente, no coração e na mente. Atletas são todos heróis.

Duramente o tempo do voluntariado junto à equipe dos chineses, observei e refleti, me alimentei disso tudo.

A partir desse voluntariado eu me reencontrei com o espírito olímpico mais essencial. Me senti um pouco olímpica, mais perto dos valores que inspiraram os habitantes de Olímpia e o Barão de Coubertin. Imagino todos os atletas possivelmente sob a égide implícita de Zeus que abençoava os primeiros atletas das cidades gregas e que talvez abençoe ainda os jogos modernos, que acabam se safando dos fantasmas que podem empanar o seu brilho.

A pira olímpica ainda hoje é acesa na cidade de Olímpia, na Grécia, aquela entre os rios Kladios e Alpheios, em um vale, no território de Pisatis, na região do Peloponeso.

Lindo, não é mesmo? Fiquemos um pouco por ali. Que desde o Olimpo Zeus abençoe todos os atletas!
ILUSTRAÇÕES: Ruínas arqueológicas de Olímpia, sede dos jogos na Antiguidade. Cartaz dos primeiros jogos da modernidade. O fogo olímpico dos Jogos 2016.

PS 1: Site oficial do SÍTIO ARQUEOLÓGICO de Olímpia: http://whc.unesco.org/en/list/517

Archaeological Site of Olympia – UNESCO World Heritage Centre
whc.unesco.org
Archaeological Site of Olympia. The site of Olympia, in a valley in the Peloponnesus, has been inhabited since prehistoric times. In the 10th century B.C., Olympia …

PS 2: Muitas das informações para este texto foram coletadas no link a seguir. Leia mais. http://seguindopassoshistoria.blogspot.com.br/2012/08/olimpia-e-os-jogos-olimpicos.html

Matéria enviada ao e-mail campanha@contraaviolencia.org, da Campanha Contra a Violência, pelo Dr. Walter Peres Chimello, Franca/SP

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