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Violência na escola

Por Marli Fróes

A violência tomou grandes proporções, atingindo até as escolas; ocorrência verificada no mundo inteiro, sobretudo nas nações que se julgam mais civilizadas.

Há muito a sociedade discute sobre a violência social, urbana, sobre a violência ao ecossistema, no trânsito, enfim todas manifestações agressivas e suas mais variadas facetas, o que se torna novo é a discussão da violência na escola, pois é fato recente. Quais seriam os motivos que levam adolescentes, num sistema educativo, a agredirem verbalmente, desrespeitarem, agredirem fisicamente e até assassinarem colegas e professores?

O filósofo e psicanalista Erich Fromm já constatava há algum tempo que “A medida que as gerações passam, vão se tornando piores. Tempo virá em que se mostrarão tão perversas, que passarão a adorar; a força será para elas o direito, o respeito ao bem deixará de existir”. É lamentável, mas Erich Fromm estava certo em sua previsão; já estamos vivenciando um período de perversidade. As pessoas estão também perdendo a capacidade de indignar, de respeitar umas as outras, nem a família, nem a escola, nem a religião conseguem frear esse movimento crescente de violência. Ela se manifesta em todas as instituições.

As discussões se fomentam em torno da questão, contudo a sociedade ainda não descobriu “no âmbito do problema” as verdadeiras causas e soluções. Algumas consideram apenas que a violência é o reflexo da condição social psicológica do homem, mas não centralizam suas discussões para descobrir as causas geradoras dessas condições sociais e psicológicas do homem.

Sabemos que a violência é prática história da humanidade, porém é problema preocupante da contemporaneidade. Ela dissemina como uma “praga”, matando, massacrando e vitimando a muitos. Verificamos que a ciência conseguiu acabar com as doenças que eliminavam populações, porém não é capaz ainda de ter respostas satisfatórias para essa doença chamada violência.

Ao lado dessa constatação, verifica-se que os meios de comunicação social tratam do assunto de maneira sensacionalista, em que a televisão hoje assume o espaço de arena e o espectador de ontem é o telespectador de hoje. De certa forma, a mídia propaga a violência, mas não pode ser apressadamente considerada a responsável. A questão da violência é muito mais complexa, pois as causas se confundem com os efeitos e vice-versa. E toda forma de violência parece estar alicerçada em várias causas, daí a dificuldade de conseguir postular possíveis soluções, já que convivemos com variadas formas de violências, que suscitam outras.

A violência social, resultado da má e injusta distribuição de renda, provoca o desemprego, a fome, a grande massa de miseráveis e parece-nos ser a grande desencadeadora de outras de violência, ou seja, seu efeito é a miséria, injustiça social, desemprego, desencanto, perda de valores, desvios de caráter, que fazem com pessoas roubam, matam, enganem, provoquem falcatruas, ignore os direitos humanos. Enfim a disputa pelo poder, ou o simples ato de tentar sobreviver, hoje, pode representar luta por espaços, por sua vez, possibilidade para a prática da violência.

No entanto, reconhecer que só a violência social é desencadeada de outras, torna a reflexão superficial e falha. Convivemos com violências múltiplas, como no trânsito, violência à natureza, que gera má qualidade de vida para todos e para a posteridade. Convivemos ainda co a tão pouco discutida “violência nas relações”, manifestadas através de relações pouco afetivas e amistosas, através da exploração entre marido e mulher, por exemplo; através de relações pouco verdadeiras, relações de hipocrisias, desrespeito, enfim de tudo aquilo que fere alma humana.

Por que então não discutir as relações entre as pessoas, quando se fala em violência? Não poderíamos ter relações mai humanas e humanizadoras? Urge discutir a “escola social”, ou seja, a beleza e a harmonia nas relações.

Há crises de valores sim, caos em todas as instituições, desde a família às grandes organizações de ordem mundial. Porém discursos evasivos de que é preciso “aumentar a segurança do cidadão, aplicar de forma justa as leis, punir, fortalecer a estrutura familiar, educar melhor os jovens, etc” enfim, só discursos não combatem a violência. Parece-nos ser necessário a criatividade e a vontade dois mecanismos capazes de conter a violência. Atitudes simples e aparentemente ineficazes como tirar meninos da rua e colocá-los para produzir arte, não representa solução, mas já faz alguma diferença positiva.

Faz se necessário conscientizarmos que a violência, seja de qualquer forma de manifestação, é luta por algum tipo de espaço, seja geográfico ou de outra natureza. Quem violenta está reclamando algo, de forma perversa, mas está. Ele é alguém que não “deu conta” de se estabilizar no mundo.

Ironicamente convivemos com a maior experiência de desenvolvimento tecnológico da história da humanidade, ao lado das crescentes práticas perversas. Percebe-se o avanço do capital ao lado da falta de desenvolvimento e aperfeiçoamento das relações.

Tornou-se manchete corriqueira a notícia sobre alunos que assassinam professores e colegas, no âmbito escolar, ao lado da perda de capacidade das pessoas em se “espantarem” e indignarem.

Pergunta-se, onde estaria “o homem naturalmente bom” preconizado por Rousseau? A verdade é que o homem está cada vez mais perverso. Até as escolas viraram campos de guerras, em que não se tem muito claro são as vítimas e quem são os culpados, ou se todos (os que praticam e os que sofrem a violência) são vítimas de algum fenômeno maior, ainda não detectado pelos cientistas sociais e outros estudiosos.

Sem incorrer a atitudes utópicas, talvez o repensar as relações, por parte de cada pessoa ainda indignada com a violência, ao lado do desenvolvimento de sensibilidades e criatividade podem ser caminhos da não-violência.

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